Informativo sobre o desenvolvimento da video arte como meio expressivo
Angelo Cruz*
A video arte é uma linguagem relativamente nova. Os primeiros registros de expressão a partir desse meio aparecem em Nova York em meados dos anos sessenta, com o surgimento de equipamentos portáteis que possibilitaram certo experimentalismo até então bastante dificultoso devido à questões técnicas. Nam June Paik, artista coreano radicado nos Estados Unidos, com formação nas Universidades de Tóquio e Munique, adquiriu esse primeiro modelo chamado Sony Portapak, e em 1965 fez imagens da visita do Papa Paulo VI à Nova York, apresentando-as num bar do Greenwich Village no mesmo dia. Alguns historiadores apontam esse fato como o marco para o surgimento da video arte, sendo necessário porém levar em consideração o trabalho experimental pioneiro de outros artistas do mesmo período. Algumas semanas depois da exibição das imagens de Paik, Andy Wahrol apresentou uma mostra underground de video arte. Os experimentos de Fred Forest com o mesmo tipo de equipamento na França de 1967 também são citados como fato importante, assim como a incorporação da linguagem do video nas instalações com aparelhos de TV do alemão Wolf Vostell, integrante do grupo internacional Fluxus, durante o mesmo período. Todos esses artistas viviam o contexto da então novíssima arte conceitual, assim como da performance art, utilizando o video, novo veículo de expressão, para discutir questões importantes para a época. A video arte deve ser lida na esteira das conquistas minimalistas, mas também da arte pop, pela sua recusa em separar arte e vida por meio da incorporação das histórias em quadrinhos, da publicidade, das imagens televisivas e do cinema.
A rápida evolução dos equipamentos e softwares de edição, assim como a veiculação em redes televisivas popularizaram a linguagem entre artistas e público. Os anos setenta foram um prato cheio para video investigadores e as relações com a arte conceitual e a performance continuaram fortes. Acontecimentos como o Videoviews (1970), programa da San Jose State TV studios promoviam diálogos entre videos de diversos artistas, entre eles Bruce Naumann, Joseph Beuys, Chris Burden, Dennis Oppenheim e Vito Aconcci, nomes importantes para a arte de maneira geral, trazendo o video para o olho do furacão. Registro de performances em video se tornaram comuns e fortaleceram as duas linguagens durante os anos setenta, período de proeminência para os americanos Bill Viola e Peter Campus. A rede americana MTV, fundada em 1981, teve importante papel no desenvolvimento dos chamados videoclipes, febre entre as gerações jovens, revolucionando a visualidade da época e própria maneira de se pensar a obra visual. Na sequência, a revolução digital dos anos noventa ampliou os horizontes e inovou os conceitos da produção audiovisual; outro fator importante foi o surgimento e desenvolvimento da internet, que tornou a video arte uma linguagem de fácil produção e circulação, extremamente popular na web nos dias de hoje.
No Brasil, o desenvolvimento da videoarte remete à expansão das pesquisas nas artes plásticas e à utilização cada vez mais freqüente, a partir dos anos 1960, de recursos audiovisuais por artistas como Antonio Dias, Artur Barrio, Iole de Freitas, Lygia Pape, Rubens Gerchman, Agrippino de Paula, Arthur Omar, Antonio Manuel e Hélio Oiticica. Apesar das controvérsias a respeito das origens da videoarte entre os brasileiros, os estudos costumam apontar Antonio Dias como o primeiro a expor publicamente obras de videoarte - The Illustration of Art - Music Piece, 1971.
Hoje a linguagem do video se desdobra em diferentes nomenclaturas e formatos. As formas de apresentação são classificadas em Single channel e installation, sendo a segunda bastante comum na atualidade, trazendo para a video arte discussões da escultura, arquitetura, arte eletrônica, VJ art e arte digital, fazendo emergir categorias como video poetry e video sculpture. A presença do corpo, oriunda das origens da video arte, continua forte, bastante pela relação cotidiana do público com o cinema e a televisão, contribuindo para as discussões da performance art hoje. Toda uma geração de videoartistas se estabelece com muita potência, solidificando as questões conceituais dessa linguagem desde sempre híbrida. No menu indispensável estão Mathew Barney, Eija Liisa Ahtila, Gary Hill, Pipilotti Rist, Marina Abramovic, entre muitos. Entre os principais centros de discussão da video arte hoje estão o the experimental television center (Nova York), LUX (Londres), Netherlands Media art institute (Amsterdam).
Imagens:
1 Nam June Paik | TV. Cello with Charlotte, 1971;
2 Bruce Nauman | Studies for Holograms, 1970;
3 MTV Video Music Awards, 1984;
4 Eija-Liisa Ahtila | The house, 2002;
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* Aluno do curso de Bacharelado em artes visuais da UFPR e performer da PIP Pesquisa em dança (www.pip.art.br).
segunda-feira, 26 de janeiro de 2009
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