segunda-feira, 18 de maio de 2009

Pequenas Entrevistas/Marlon de Toledo

Dando continuidade às atividades que envolvem processo de criação em videodança, Carmen Jorge* faz uma breve entrevista via email, com o artista Marlon de Toledo sobre o processo de criação e os primeiros resultados configurados nas videodanças “Lapse” e “Pinko5” apresentados na mostra PIP POP* no dia 29/04/09:

CJ: Marlon, por que você e os respectivos criadores escolheram o formato de “Clip”, ou seja, imagens seguindo os ritmos da música, para o formato dos videodanças “Lapse” e “Pinko5”?

Talvez porque o formato clipe não tenha sido uma escolha, tenha sido uma condição para a realização dos trabalhos, num bom sentido. Partimos de uma oficina cujo nome era "miniclipes de dança", no nome já tem a palavra clipe, pra começar, na oficina, o exercício era esse mesmo, colocar a imagem na música, no tempo. Ouvi muito a expressão "edição clipada", que é a edição, o corte, no tempo da música. Esse recurso, ainda que muito utilizado, me interessou na pesquisa, e como processo pude aplicá-lo nos dois clipes, com algumas diferenças. Por exemplo: em "Lapse" vemos isso o tempo todo, foi um dos principais recursos e uma das principais escolhas/condição para realização, já em "Pinko5" vemos a edição clipada apenas nos primeiros 3 capítulos, enquanto nos dois restantes a música colabora muito mais para a criação dos ambientes do que para a edição. É interessante observar que nos dois clipes (Lapse e Pinko5) o som só veio depois da edição. Nas fases de pré-produção e produção não havia som nenhum, nem música, haviam idéias do que poderia ser o som ou a música de cada vídeo. Isso difere muito da idéia de clipe, dos clipes da MTV, por exemplo, onde a música é a geradora das imagens, primeiro existe a música depois as imagens e depois as duas coisas sincronizadas. No nosso processo a música só apareceu na pós-produção, depois de um primeiro corte de cada vídeo. Depois desse primeiro corte e das composições do Vadeco prontas é que foram se delineando as edições finais de cada vídeo, e se tornando os clipes de dança.





CJ: Você reconhece o editor como coreógrafo num trabalho de videodança? Em que sentido?

É um pouco difícil dizer isso, porque o editor tem a incumbência de montar as sequências de imagens.De alguma forma pode-se afirmar que o editor exerce uma tarefa no vídeo análoga ao do coreógrafo na cena. Porém é preciso muito cuidado para não haver uma generalização. A função do editor numa obra cinematográfica é montar a sequência de imagens conforme estava prevista no roteiro e gravada na fase de produção, é um trabalho sobretudo técnico, mas conta com o feeling do editor, no fim das contas é o editor que decide exatamente onde começa e onde termina cada plano, qual take ficou melhor, etc, mas estas informações já vem descritas na decupagem, e cabe ao editor optar pelas escolhas do diretor do filme. Obviamente o editor sempre pode modificar alguma coisa, mas sempre com o aval da equipe, não são raros os casos dos roteiros que são modificados na ilha de edição, porque neste momento é que há a materialização do que estava previsto no roteiro e nem sempre funciona, muitas vezes é preciso trocar de lugar, suprimir, reorganizar, para surtir o efeito desejado pelo diretor, e o editor/montador é quem instrumentaliza isso.
No caso do processo videográfico isso não é muito diferente, mas como é um processo muito mais aberto e livre para a experimentação, existem vários aspectos que podem ser experimentados, de vários recursos podemos dispor, mas eu prefiro acreditar no roteiro antes de tudo. Neste caso da videodança eu acredito muito que o roteiro é a coreografia escrita e é a partir disso que o editor trabalha, e também do esforço e vontade da equipe toda.
Eu acredito que podemos afirmar que a edição cria a coreografia, que os cortes o encadeamento podem criar e recriar a dança o movimento, mas isso num contexto bem maior onde as outra variáveis estão incluídas, como a música, a locação, a dramaturgia, etc.

CJ: Como foi a oficina “Miniclipes de Dança” ministrada pelo videodesigner Marcus Moraes? Como ela influenciou nesses resultados?

A oficina foi uma forma de nos inserir no assunto, dar um pontapé inicial, sabe. A oficina nos mostrou que era possível fazer. O Marcus mostrou-nos um método que nos orientou para o fazer, não podíamos ficar de braços cruzados, o conhecimento se dá pela experiência. Não considero que tenhamos atingidos resultados, de uma forma conclusiva, acredito que estes três vídeos façam parte de um processo de pesquisa, uma experiência a partir do caminho que o Marcus nos mostrou, dai para frente podemos experimentar muito mais.


*Primeiro Corte: podemos dizer que é uma pré-edição do filme, que
seria simplesmente a montagem do filme tal qual está no roteiro. Após
o primeiro corte a equipe assiste o filme e decide quais cenas serão
cortadas ou se deve modificar a ordem de alguma cena para o filme
ter o efeito desejado.

*O termo decupagem tem vários significados que estão em camadas
diferentes, tecnicamente é o planejamento da filmagem, a divisão de
uma cena em planos e a previsão de como estes planos vão se ligar uns
aos outros através de cortes.

*A toda tentativa de se gravar um mesmo plano damos o nome de take.

*Carmen Jorge: Coreógrafa idealizadora do projeto Tecnolaboraterritório.

*PIP POP: Mostra de processo de criação em Videodança.



segunda-feira, 11 de maio de 2009

PIP



Visite o site da PIP: www.pip.art.br

Pequenas Entrevistas/Angelo Luz

Dando continuidade às atividades que envolvem processo de criação em videodança, Carmen Jorge* faz uma breve entrevista via email, com o artista Angelo Luz sobre o processo de criação e os primeiros resultados configurados na videodança “Pinko5” apresentados na mostra PIP POP* no dia 29/04/09:

CJ: Angelo como você chegou na “coreografia” filmada em sua videodança “PINKO 5”?

A: Para mim a idéia de coreografia se desenvolveu para um estado criativo de movimento, onde minhas vivências corporais encarnadas durante toda a minha história como bailarino se manifestam no momento em que eu decido dançar. A coreografia para PINKO 5 tem uma forte relação com uma certa atitude “poser ironic fake”, e essas imagens me motivaram a dançar e me relacionar com a câmera no momento da filmagem. Fiz alguns estudos prévios,mas não criei nenhuma estrutura fixa.







CJ: Você partiu de algum conceito pré-estabelecido? Se sim qual?

A: Acredito que o conceito de uma obra se constrói durante o processo de criação. Eu tinha algumas idéias sobre o que eu gostaria de mostrar em uma videodança, que foram o ponto de partida. Queria criar algo que se relacionasse bem com a web, fácil de baixar ou assistir on line. Como estética tenho perseguido a ironia, a cultura pós-pop, o kitsch, a música eletrônica, o vídeo clipe e a moda. Essas coisas juntas compõem aquilo que se pode chamar de “conceito” e que para mim está sempre em transformação, como todas as coisas.


CJ: Como foi o processo de criação? O que envolveu e quem?

A: Esse processo começou com a proposta de se criar uma videodança, como um exercício. A partir disso visitei minhas referências, baixei muitas imagens na internet, músicas também. Assisti videoclipes atuais e antigos e busquei entender em que eles se relacionavam. Comecei estruturando a imagem do performer, a partir de uma junção de experimentos que realizei anteriormente, o body painting é um bom exemplo. Criei uma estrutura de arame inspirada nas idéias de parangolé e moldura. Isso tudo já é processo coreográfico. Escolhi o boneco do Snoopy como signo kitsch, elemento lúdico e ícone pop que remete à minha infância. Montei um set de música eletrônica e dancei um pouco pensando na relação com a câmera. Esse foi o início.
A segunda parte foi a filmagem. Várias idéias que me pareciam interessantes se perderam nesse trajeto entre o fotógrafo e eu. Algumas coisas boas surgiram. Pareceu-me que esta etapa tem uma relação muito forte com a linguagem oral, e em como é possível ou não traduzir uma imagem em palavras. Também aí começa uma discussão sobre como criar algo em conjunto com alguém. Nesse sentido acredito que foi um momento essencialmente técnico.
A última etapa foi a edição e sonorização onde o músico e o editor participam mais das escolhas do que pode ou não ser o trabalho. Com certeza o momento mais complexo da criação de um vídeo, penso eu. De novo me parece que são fundamentalmente questões de linguagem oral e de como traduzir idéias em palavras. Nesse entremeio o trabalho se transformou muito e se afastou um pouco dos “conceitos” iniciais em direção a outros, mas mantendo o eixo da discussão. Por falta de tempo algumas coisas não alcançaram a qualidade que eu gostaria. Interessante foi ter aprendido o básico de edição e de sonorização a partir da manipulação dos softwares. Com certeza aí houve um ganho significativo que acredito já poderá ser percebido num próximo trabalho, influenciando diretamente o processo inicial de criação, o que me parece muito válido para o projeto que estamos inseridos: Pesquisa de Linguagens.

*Carmen Jorge: Coreógrafa idealizadora do projeto Tecnolaboraterritório;
*PIP POP: Mostra de processo de criação em Videodança.