Embora escrever sobre música e dança possa parecer fácil- já que existem bancos literários de mais de 500 anos sobre o assunto-, quando se coloca a tecnologia entre esses dois objetos surge-nos um novo tipo de arte. Minha vontade era a de “samplear” frases e conceitos para facilitar e agilizar o meu trabalho neste momento, mas, infelizmente, não existem muitas fontes de pesquisa sobre esse “novo tipo de arte”, e as que existem são ainda extremamente recentes, em desenvolvimento, ainda muito relacionadas às referências acadêmicas impostas para o reconhecimento desses artigos. Assim, o resultado deste texto é um esboço da minha visão pessoal sobre o assunto, sem nenhuma intenção de reconhecimento ou compromisso didático, mesmo porque minha visão a respeito segue tão mutante como a própria tecnologia do meio.
A música produzida hoje em dia é radicalmente diferente daquela produzida em qualquer época da história da arte. A apropriação de sons produzidos por outras pessoas, lugares ou tecnologias nos fazem co-autores em boa parte do tempo. A esse material do qual nos apropriamos e que nos faz co-autores dá-se o nome de samples (amostras digitais de sons, em geral de pequena duração), que serão tocados pelos samplers, ou seja, instrumentos eletrônicos de extrema versatilidade e amplo uso em estúdios de gravação musical pela quantidade de sons que podem oferecer, capazes de digitalizar sons naturais, memorizá-los e depois reproduzi-los. Dos samplers produzimos os loops, que são segmentos dos samples reproduzidos repetidamente enquanto a nota está sendo tocada. Dos samples e dos loops nascem novas músicas de sonoridades diversas conectadas com instrumentos e instrumentistas reais, forjando o que eu chamo de nova tendência sonora, que se desenvolve de uma maneira tão rápida quanto o aumento da largura de banda da internet a cabo ou o numero de verbetes da Wikipédia ou mesmo quanto à velocidade dos processadores dos computadores.
Pode-se dizer que a música já é dependente da tecnologia desde Schaffer ou Edison (e creio que o inverso também é verdadeiro). Mas, no momento, essa dependência está cada vez mais presente e acessível aos “(...) reles compositores populares sem vínculos acadêmicos de pesquisa, de classe média, que querem apenas produzir (...) [e] meio que como menestréis sonoros, buscam emocionar ou simplesmente fazer alguma coisa soar, pois o silencio incomoda o ser contemporâneo”.
Da mesma maneira a dança busca a tecnologia como uma nova ferramenta de trabalho ou criação artística, e essa mesma dança em pouco tempo também será dependente de softwares, computadores, samplers, samples ou loops , ou qualquer que seja a ferramenta que a otimize e contribua para o seu desenvolvimento.
*Vadeco é músico e compositor. Colaborador da PIP - Pesquisa em Dança desde 2002.
terça-feira, 16 de junho de 2009
TECNOLOGIA, MÚSICA E DANÇA POR VADECO
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PEQUENAS ENTREVISTAS / VADECO
Dando continuidade às atividades que envolvem processo de criação em videodança, Carmen Jorge* faz uma breve entrevista via email, com o compositor e músico Vadeco, sobre o processo de criação e os primeiros resultados configurados na videodança “Lapse” e “Pinko5” apresentada na mostra PIP POP* no dia 29/04/09:
CJ: Vadeco, você sonorizou os dois videodanças “Lapse” e “Pinko5”, você reconhece unidade entre os dois trabalhos?Por quê?
Sim, principalmente pelo fato de eu ter feito a música para ambos os projetos, e o Marlon ter editado. Apesar de serem músicas de estilos diferentes, existem algumas regras que eu utilizei para os dois trabalhos, entre elas a utilização de loops construídos de maneira musical, ou seja, musicando e seguindo alguns padrões de forma que achei importante para as edições clipadas.
CJ: Para mim são dois trabalhos completamente diferentes. Como você vê a questão da singularidade dentro da unidade?
Quando se realiza uma pesquisa coletiva é muito provável que os envolvidos se “contaminem” com as mesmas referências, e essa contaminação acaba contribuindo para a inter-relação dos produtos, vejo isso como um ponto positivo, pois demonstra que o processo esta sendo desenvolvido colaborativamente e isso promove uma unidade estética. A singularidade se apresenta com a pessoalidade, ou as referencias pessoais, que são desenvolvidas num processo maior, mais profundo e mais complexo.
CJ: A unidade visual é construída através da composição, centralização e simetria. O que seria a unidade sonora?
A unidade sonora está relacionada com timbre, forma e conceito. Apesar de os dois trabalhos serem completamente diferentes, eles têm características tímbricas em comum e a forma segue o conceito de videoclip.
CJ: Como foi o processo de criação para esses videodanças?
Com cada um dos bailarinos conversamos primeiramente em relação ao conceito de cada um dos trabalhos, depois buscamos referências sonoras para nortear o processo de sonorização, após muitas conversas e discussões encontramos um caminho e seguimos nele até a finalização.
*Carmen Jorge: Coreógrafa idealizadora do projeto Tecnolaboraterritório;
*PIP POP: Mostra de processo de criação em Videodança.
CJ: Vadeco, você sonorizou os dois videodanças “Lapse” e “Pinko5”, você reconhece unidade entre os dois trabalhos?Por quê?
Sim, principalmente pelo fato de eu ter feito a música para ambos os projetos, e o Marlon ter editado. Apesar de serem músicas de estilos diferentes, existem algumas regras que eu utilizei para os dois trabalhos, entre elas a utilização de loops construídos de maneira musical, ou seja, musicando e seguindo alguns padrões de forma que achei importante para as edições clipadas.
CJ: Para mim são dois trabalhos completamente diferentes. Como você vê a questão da singularidade dentro da unidade?
Quando se realiza uma pesquisa coletiva é muito provável que os envolvidos se “contaminem” com as mesmas referências, e essa contaminação acaba contribuindo para a inter-relação dos produtos, vejo isso como um ponto positivo, pois demonstra que o processo esta sendo desenvolvido colaborativamente e isso promove uma unidade estética. A singularidade se apresenta com a pessoalidade, ou as referencias pessoais, que são desenvolvidas num processo maior, mais profundo e mais complexo.
CJ: A unidade visual é construída através da composição, centralização e simetria. O que seria a unidade sonora?
A unidade sonora está relacionada com timbre, forma e conceito. Apesar de os dois trabalhos serem completamente diferentes, eles têm características tímbricas em comum e a forma segue o conceito de videoclip.
CJ: Como foi o processo de criação para esses videodanças?
Com cada um dos bailarinos conversamos primeiramente em relação ao conceito de cada um dos trabalhos, depois buscamos referências sonoras para nortear o processo de sonorização, após muitas conversas e discussões encontramos um caminho e seguimos nele até a finalização.
*Carmen Jorge: Coreógrafa idealizadora do projeto Tecnolaboraterritório;
*PIP POP: Mostra de processo de criação em Videodança.
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PEQUENAS ENTREVISTAS/ VIVIANE MORTEAN
Dando continuidade às atividades que envolvem processo de criação em videodança, Carmen Jorge* faz uma breve entrevista via email, com a artista Viviane Mortean sobre o processo de criação e os primeiros resultados configurados na videodança “Lapse” apresentada na mostra PIP POP* no dia 29/04/09:
CJ: Viviane, como você chegou na “coreografia” filmada em sua videodança “Lapse”?
A criação de movimento em LAPSE foi pensada em relação às condições que o espaço urbano fornece ao corpo. Isto fez com que fosse organizada uma célula coreográfica com cinco movimentos básicos: ir para o lado, subir o braço, agachar, girar no próprio eixo e levantar. A criação desta célula de movimento se concretizou levando em conta o estado de corpo que o ambiente urbano proporciona. Um estado cuja atenção tem de estar direcionada para todos os lados e onde é necessário ter malícia para desviar de algo que possa vir a lhe surpreender. Esta malícia apresenta-se organização da própria célula coreográfica. Os movimentos não possuíam uma seqüência lógica, a responsabilidade pela organização coreográfica ficava por conta do acaso passando por minhas percepções enquanto performer. No momento performático, estavam sendo valorizados carros passando, pessoas olhando, a arquitetura, grafismos em paredes, estímulos que aconteciam e instantaneamente geravam uma organização corporal, além do posicionamento da câmera que auxiliava a problematizar a relação corpo/espaço/movimento.
CJ: Você partiu de algum conceito pré-estabelecido?
Partiu-se do conceito trazido por Paola Jacques e Fabiana Britto, no artigo Cenografias e Corpografias Urbanas: um diálogo sobre as relações entre corpo e cidade (2008), em que elas apresentam que existam condições favoráveis para a configuração de uma espécie de corpo urbano, onde são registradas experiências da cidade trazendo consigo uma memória urbana, uma espécie de grafia da cidade vivida. Acredita-se que o corpo urbano percebe o mundo de forma fragmentada, tem percepções, reações e impulsos vindo de distintos pontos do espaço e que favorecem sua sobrevivência dentro do fluxo urbano.
CJ: Como foi o processo de criação? O que envolveu e quem?
A possibilidade de realizar uma videodança supriu uma dúvida que carregava enquanto artista: como realizar um procedimento artístico que traga o corpo presente para o espaço da urbe sem que esta ação performática se dilua com as milhares informações da cidade? Interessava um trabalho que emergisse do espaço urbano, uma proposta que respeitasse a arquitetura, o tempo e os movimentos da urbe tornando-a co-responsável na realização do trabalho. Desta forma enxerguei na videodança um procedimento que supria estas necessidades enquanto artista, até mesmo porque discutir relações entre corpo e o espaço da cidade sempre me interessou mais do que realizar uma dança no espaço público.
Este interesse fez com que me encontrasse com um evento promovido pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) chamado CORPOCIDADE, cujo site do programa está repleto de artigos que fazem referência à organização do corpo que vivencia diariamente os espaços da urbe.
Imbuída de conceitos e considerações a respeito do corpo urbano partiu-se em direção ao espaço da cidade com alguns direcionamentos de gravação. Com assistência de Carmen Jorge e Ângelo Luz, o câmera, Marlon de Toledo, sabia a respeito da movimentação organizada nos cinco movimentos básicos. Da mesma forma que a movimentação estava aberta aos acasos da urbe, o câmera também se colocava atento para registrar momentos que não estavam previstos: como uma pausa repentina ou seqüências de deslocamento.
LAPSE foi elaborado com uma lógica operacional de documentário, em que não existe uma decupagem de roteiro detalhada. Havia locações, idéias fotográficas e de edição, porém, com fendas para o acaso e para o improviso.
Após a capitação das imagens chegou-se na segunda fase da composição coreográfica. A edição permite elaborar uma dança que não depende do mundo físico, abrindo possibilidades para explorar quebras na continuidade de movimento, mudanças de ambientes ou um “avanço temporal”.
A vivência enquanto editor e o conhecimento com o software de edição (Final Cut) fizeram com que Marlon de Toledo passasse a fazer parte da concepção do trabalho. A idéia em utilizar time lapse (efeito em que se modifica o tempo de rotação de gravação da câmera) de onde vem o nome do trabalho, além dos momentos exatos de cortes e organização de planos foram pensados de maneira colaborativa.
A trilha do trabalho ficou por conta de Vadeco. Sua percepção, considerações e idéias sonoras ao ver as imagens do trabalho foram colocadas, e ao lado de discussões, chegou-se na concepção da trilha sonora.
Desta forma a videodança se faz numa proposição audiovisual e acredito que neste momento histórico, pesquisar e realizar vídeodança significa investir no desenvolvimento e na difusão de um novo pensamento a respeito da dança e do vídeo.
BRITTO, Fabiana D.; JACKES, Paola B. Cenografias e Corpografias Urbanas – um diálogo sobre as relações entre corpo e cidade/ Cadernos PPG-AU/UFBA: Paisagens do Corpo. Salvador: FAUFBA: EDUFBA, 2008.
http://www.corpocidade.dan.ufba.br/encontro.htm - acessado em 27/09/2008.
*Carmen Jorge: Coreógrafa idealizadora do projeto Tecnolaboraterritório;
*PIP POP: Mostra de processo de criação em Videodança.
CJ: Viviane, como você chegou na “coreografia” filmada em sua videodança “Lapse”?
A criação de movimento em LAPSE foi pensada em relação às condições que o espaço urbano fornece ao corpo. Isto fez com que fosse organizada uma célula coreográfica com cinco movimentos básicos: ir para o lado, subir o braço, agachar, girar no próprio eixo e levantar. A criação desta célula de movimento se concretizou levando em conta o estado de corpo que o ambiente urbano proporciona. Um estado cuja atenção tem de estar direcionada para todos os lados e onde é necessário ter malícia para desviar de algo que possa vir a lhe surpreender. Esta malícia apresenta-se organização da própria célula coreográfica. Os movimentos não possuíam uma seqüência lógica, a responsabilidade pela organização coreográfica ficava por conta do acaso passando por minhas percepções enquanto performer. No momento performático, estavam sendo valorizados carros passando, pessoas olhando, a arquitetura, grafismos em paredes, estímulos que aconteciam e instantaneamente geravam uma organização corporal, além do posicionamento da câmera que auxiliava a problematizar a relação corpo/espaço/movimento.
CJ: Você partiu de algum conceito pré-estabelecido?
Partiu-se do conceito trazido por Paola Jacques e Fabiana Britto, no artigo Cenografias e Corpografias Urbanas: um diálogo sobre as relações entre corpo e cidade (2008), em que elas apresentam que existam condições favoráveis para a configuração de uma espécie de corpo urbano, onde são registradas experiências da cidade trazendo consigo uma memória urbana, uma espécie de grafia da cidade vivida. Acredita-se que o corpo urbano percebe o mundo de forma fragmentada, tem percepções, reações e impulsos vindo de distintos pontos do espaço e que favorecem sua sobrevivência dentro do fluxo urbano.
CJ: Como foi o processo de criação? O que envolveu e quem?
A possibilidade de realizar uma videodança supriu uma dúvida que carregava enquanto artista: como realizar um procedimento artístico que traga o corpo presente para o espaço da urbe sem que esta ação performática se dilua com as milhares informações da cidade? Interessava um trabalho que emergisse do espaço urbano, uma proposta que respeitasse a arquitetura, o tempo e os movimentos da urbe tornando-a co-responsável na realização do trabalho. Desta forma enxerguei na videodança um procedimento que supria estas necessidades enquanto artista, até mesmo porque discutir relações entre corpo e o espaço da cidade sempre me interessou mais do que realizar uma dança no espaço público.
Este interesse fez com que me encontrasse com um evento promovido pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) chamado CORPOCIDADE, cujo site do programa está repleto de artigos que fazem referência à organização do corpo que vivencia diariamente os espaços da urbe.
Imbuída de conceitos e considerações a respeito do corpo urbano partiu-se em direção ao espaço da cidade com alguns direcionamentos de gravação. Com assistência de Carmen Jorge e Ângelo Luz, o câmera, Marlon de Toledo, sabia a respeito da movimentação organizada nos cinco movimentos básicos. Da mesma forma que a movimentação estava aberta aos acasos da urbe, o câmera também se colocava atento para registrar momentos que não estavam previstos: como uma pausa repentina ou seqüências de deslocamento.
LAPSE foi elaborado com uma lógica operacional de documentário, em que não existe uma decupagem de roteiro detalhada. Havia locações, idéias fotográficas e de edição, porém, com fendas para o acaso e para o improviso.
Após a capitação das imagens chegou-se na segunda fase da composição coreográfica. A edição permite elaborar uma dança que não depende do mundo físico, abrindo possibilidades para explorar quebras na continuidade de movimento, mudanças de ambientes ou um “avanço temporal”.
A vivência enquanto editor e o conhecimento com o software de edição (Final Cut) fizeram com que Marlon de Toledo passasse a fazer parte da concepção do trabalho. A idéia em utilizar time lapse (efeito em que se modifica o tempo de rotação de gravação da câmera) de onde vem o nome do trabalho, além dos momentos exatos de cortes e organização de planos foram pensados de maneira colaborativa.
A trilha do trabalho ficou por conta de Vadeco. Sua percepção, considerações e idéias sonoras ao ver as imagens do trabalho foram colocadas, e ao lado de discussões, chegou-se na concepção da trilha sonora.
Desta forma a videodança se faz numa proposição audiovisual e acredito que neste momento histórico, pesquisar e realizar vídeodança significa investir no desenvolvimento e na difusão de um novo pensamento a respeito da dança e do vídeo.
BRITTO, Fabiana D.; JACKES, Paola B. Cenografias e Corpografias Urbanas – um diálogo sobre as relações entre corpo e cidade/ Cadernos PPG-AU/UFBA: Paisagens do Corpo. Salvador: FAUFBA: EDUFBA, 2008.
http://www.corpocidade.dan.ufba.br/encontro.htm - acessado em 27/09/2008.
*Carmen Jorge: Coreógrafa idealizadora do projeto Tecnolaboraterritório;
*PIP POP: Mostra de processo de criação em Videodança.
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segunda-feira, 18 de maio de 2009
Pequenas Entrevistas/Marlon de Toledo
Dando continuidade às atividades que envolvem processo de criação em videodança, Carmen Jorge* faz uma breve entrevista via email, com o artista Marlon de Toledo sobre o processo de criação e os primeiros resultados configurados nas videodanças “Lapse” e “Pinko5” apresentados na mostra PIP POP* no dia 29/04/09:
CJ: Marlon, por que você e os respectivos criadores escolheram o formato de “Clip”, ou seja, imagens seguindo os ritmos da música, para o formato dos videodanças “Lapse” e “Pinko5”?
Talvez porque o formato clipe não tenha sido uma escolha, tenha sido uma condição para a realização dos trabalhos, num bom sentido. Partimos de uma oficina cujo nome era "miniclipes de dança", no nome já tem a palavra clipe, pra começar, na oficina, o exercício era esse mesmo, colocar a imagem na música, no tempo. Ouvi muito a expressão "edição clipada", que é a edição, o corte, no tempo da música. Esse recurso, ainda que muito utilizado, me interessou na pesquisa, e como processo pude aplicá-lo nos dois clipes, com algumas diferenças. Por exemplo: em "Lapse" vemos isso o tempo todo, foi um dos principais recursos e uma das principais escolhas/condição para realização, já em "Pinko5" vemos a edição clipada apenas nos primeiros 3 capítulos, enquanto nos dois restantes a música colabora muito mais para a criação dos ambientes do que para a edição. É interessante observar que nos dois clipes (Lapse e Pinko5) o som só veio depois da edição. Nas fases de pré-produção e produção não havia som nenhum, nem música, haviam idéias do que poderia ser o som ou a música de cada vídeo. Isso difere muito da idéia de clipe, dos clipes da MTV, por exemplo, onde a música é a geradora das imagens, primeiro existe a música depois as imagens e depois as duas coisas sincronizadas. No nosso processo a música só apareceu na pós-produção, depois de um primeiro corte de cada vídeo. Depois desse primeiro corte e das composições do Vadeco prontas é que foram se delineando as edições finais de cada vídeo, e se tornando os clipes de dança.
CJ: Você reconhece o editor como coreógrafo num trabalho de videodança? Em que sentido?
É um pouco difícil dizer isso, porque o editor tem a incumbência de montar as sequências de imagens.De alguma forma pode-se afirmar que o editor exerce uma tarefa no vídeo análoga ao do coreógrafo na cena. Porém é preciso muito cuidado para não haver uma generalização. A função do editor numa obra cinematográfica é montar a sequência de imagens conforme estava prevista no roteiro e gravada na fase de produção, é um trabalho sobretudo técnico, mas conta com o feeling do editor, no fim das contas é o editor que decide exatamente onde começa e onde termina cada plano, qual take ficou melhor, etc, mas estas informações já vem descritas na decupagem, e cabe ao editor optar pelas escolhas do diretor do filme. Obviamente o editor sempre pode modificar alguma coisa, mas sempre com o aval da equipe, não são raros os casos dos roteiros que são modificados na ilha de edição, porque neste momento é que há a materialização do que estava previsto no roteiro e nem sempre funciona, muitas vezes é preciso trocar de lugar, suprimir, reorganizar, para surtir o efeito desejado pelo diretor, e o editor/montador é quem instrumentaliza isso.
No caso do processo videográfico isso não é muito diferente, mas como é um processo muito mais aberto e livre para a experimentação, existem vários aspectos que podem ser experimentados, de vários recursos podemos dispor, mas eu prefiro acreditar no roteiro antes de tudo. Neste caso da videodança eu acredito muito que o roteiro é a coreografia escrita e é a partir disso que o editor trabalha, e também do esforço e vontade da equipe toda.
Eu acredito que podemos afirmar que a edição cria a coreografia, que os cortes o encadeamento podem criar e recriar a dança o movimento, mas isso num contexto bem maior onde as outra variáveis estão incluídas, como a música, a locação, a dramaturgia, etc.
CJ: Como foi a oficina “Miniclipes de Dança” ministrada pelo videodesigner Marcus Moraes? Como ela influenciou nesses resultados?
A oficina foi uma forma de nos inserir no assunto, dar um pontapé inicial, sabe. A oficina nos mostrou que era possível fazer. O Marcus mostrou-nos um método que nos orientou para o fazer, não podíamos ficar de braços cruzados, o conhecimento se dá pela experiência. Não considero que tenhamos atingidos resultados, de uma forma conclusiva, acredito que estes três vídeos façam parte de um processo de pesquisa, uma experiência a partir do caminho que o Marcus nos mostrou, dai para frente podemos experimentar muito mais.
*Primeiro Corte: podemos dizer que é uma pré-edição do filme, que
seria simplesmente a montagem do filme tal qual está no roteiro. Após
o primeiro corte a equipe assiste o filme e decide quais cenas serão
cortadas ou se deve modificar a ordem de alguma cena para o filme
ter o efeito desejado.
*O termo decupagem tem vários significados que estão em camadas
diferentes, tecnicamente é o planejamento da filmagem, a divisão de
uma cena em planos e a previsão de como estes planos vão se ligar uns
aos outros através de cortes.
*A toda tentativa de se gravar um mesmo plano damos o nome de take.
*Carmen Jorge: Coreógrafa idealizadora do projeto Tecnolaboraterritório.
*PIP POP: Mostra de processo de criação em Videodança.
CJ: Marlon, por que você e os respectivos criadores escolheram o formato de “Clip”, ou seja, imagens seguindo os ritmos da música, para o formato dos videodanças “Lapse” e “Pinko5”?
Talvez porque o formato clipe não tenha sido uma escolha, tenha sido uma condição para a realização dos trabalhos, num bom sentido. Partimos de uma oficina cujo nome era "miniclipes de dança", no nome já tem a palavra clipe, pra começar, na oficina, o exercício era esse mesmo, colocar a imagem na música, no tempo. Ouvi muito a expressão "edição clipada", que é a edição, o corte, no tempo da música. Esse recurso, ainda que muito utilizado, me interessou na pesquisa, e como processo pude aplicá-lo nos dois clipes, com algumas diferenças. Por exemplo: em "Lapse" vemos isso o tempo todo, foi um dos principais recursos e uma das principais escolhas/condição para realização, já em "Pinko5" vemos a edição clipada apenas nos primeiros 3 capítulos, enquanto nos dois restantes a música colabora muito mais para a criação dos ambientes do que para a edição. É interessante observar que nos dois clipes (Lapse e Pinko5) o som só veio depois da edição. Nas fases de pré-produção e produção não havia som nenhum, nem música, haviam idéias do que poderia ser o som ou a música de cada vídeo. Isso difere muito da idéia de clipe, dos clipes da MTV, por exemplo, onde a música é a geradora das imagens, primeiro existe a música depois as imagens e depois as duas coisas sincronizadas. No nosso processo a música só apareceu na pós-produção, depois de um primeiro corte de cada vídeo. Depois desse primeiro corte e das composições do Vadeco prontas é que foram se delineando as edições finais de cada vídeo, e se tornando os clipes de dança.
CJ: Você reconhece o editor como coreógrafo num trabalho de videodança? Em que sentido?
É um pouco difícil dizer isso, porque o editor tem a incumbência de montar as sequências de imagens.De alguma forma pode-se afirmar que o editor exerce uma tarefa no vídeo análoga ao do coreógrafo na cena. Porém é preciso muito cuidado para não haver uma generalização. A função do editor numa obra cinematográfica é montar a sequência de imagens conforme estava prevista no roteiro e gravada na fase de produção, é um trabalho sobretudo técnico, mas conta com o feeling do editor, no fim das contas é o editor que decide exatamente onde começa e onde termina cada plano, qual take ficou melhor, etc, mas estas informações já vem descritas na decupagem, e cabe ao editor optar pelas escolhas do diretor do filme. Obviamente o editor sempre pode modificar alguma coisa, mas sempre com o aval da equipe, não são raros os casos dos roteiros que são modificados na ilha de edição, porque neste momento é que há a materialização do que estava previsto no roteiro e nem sempre funciona, muitas vezes é preciso trocar de lugar, suprimir, reorganizar, para surtir o efeito desejado pelo diretor, e o editor/montador é quem instrumentaliza isso.
No caso do processo videográfico isso não é muito diferente, mas como é um processo muito mais aberto e livre para a experimentação, existem vários aspectos que podem ser experimentados, de vários recursos podemos dispor, mas eu prefiro acreditar no roteiro antes de tudo. Neste caso da videodança eu acredito muito que o roteiro é a coreografia escrita e é a partir disso que o editor trabalha, e também do esforço e vontade da equipe toda.
Eu acredito que podemos afirmar que a edição cria a coreografia, que os cortes o encadeamento podem criar e recriar a dança o movimento, mas isso num contexto bem maior onde as outra variáveis estão incluídas, como a música, a locação, a dramaturgia, etc.
CJ: Como foi a oficina “Miniclipes de Dança” ministrada pelo videodesigner Marcus Moraes? Como ela influenciou nesses resultados?
A oficina foi uma forma de nos inserir no assunto, dar um pontapé inicial, sabe. A oficina nos mostrou que era possível fazer. O Marcus mostrou-nos um método que nos orientou para o fazer, não podíamos ficar de braços cruzados, o conhecimento se dá pela experiência. Não considero que tenhamos atingidos resultados, de uma forma conclusiva, acredito que estes três vídeos façam parte de um processo de pesquisa, uma experiência a partir do caminho que o Marcus nos mostrou, dai para frente podemos experimentar muito mais.
*Primeiro Corte: podemos dizer que é uma pré-edição do filme, que
seria simplesmente a montagem do filme tal qual está no roteiro. Após
o primeiro corte a equipe assiste o filme e decide quais cenas serão
cortadas ou se deve modificar a ordem de alguma cena para o filme
ter o efeito desejado.
*O termo decupagem tem vários significados que estão em camadas
diferentes, tecnicamente é o planejamento da filmagem, a divisão de
uma cena em planos e a previsão de como estes planos vão se ligar uns
aos outros através de cortes.
*A toda tentativa de se gravar um mesmo plano damos o nome de take.
*Carmen Jorge: Coreógrafa idealizadora do projeto Tecnolaboraterritório.
*PIP POP: Mostra de processo de criação em Videodança.
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Viviane Mortean
segunda-feira, 11 de maio de 2009
Pequenas Entrevistas/Angelo Luz
Dando continuidade às atividades que envolvem processo de criação em videodança, Carmen Jorge* faz uma breve entrevista via email, com o artista Angelo Luz sobre o processo de criação e os primeiros resultados configurados na videodança “Pinko5” apresentados na mostra PIP POP* no dia 29/04/09:
CJ: Angelo como você chegou na “coreografia” filmada em sua videodança “PINKO 5”?
A: Para mim a idéia de coreografia se desenvolveu para um estado criativo de movimento, onde minhas vivências corporais encarnadas durante toda a minha história como bailarino se manifestam no momento em que eu decido dançar. A coreografia para PINKO 5 tem uma forte relação com uma certa atitude “poser ironic fake”, e essas imagens me motivaram a dançar e me relacionar com a câmera no momento da filmagem. Fiz alguns estudos prévios,mas não criei nenhuma estrutura fixa.
CJ: Você partiu de algum conceito pré-estabelecido? Se sim qual?
A: Acredito que o conceito de uma obra se constrói durante o processo de criação. Eu tinha algumas idéias sobre o que eu gostaria de mostrar em uma videodança, que foram o ponto de partida. Queria criar algo que se relacionasse bem com a web, fácil de baixar ou assistir on line. Como estética tenho perseguido a ironia, a cultura pós-pop, o kitsch, a música eletrônica, o vídeo clipe e a moda. Essas coisas juntas compõem aquilo que se pode chamar de “conceito” e que para mim está sempre em transformação, como todas as coisas.
CJ: Como foi o processo de criação? O que envolveu e quem?
A: Esse processo começou com a proposta de se criar uma videodança, como um exercício. A partir disso visitei minhas referências, baixei muitas imagens na internet, músicas também. Assisti videoclipes atuais e antigos e busquei entender em que eles se relacionavam. Comecei estruturando a imagem do performer, a partir de uma junção de experimentos que realizei anteriormente, o body painting é um bom exemplo. Criei uma estrutura de arame inspirada nas idéias de parangolé e moldura. Isso tudo já é processo coreográfico. Escolhi o boneco do Snoopy como signo kitsch, elemento lúdico e ícone pop que remete à minha infância. Montei um set de música eletrônica e dancei um pouco pensando na relação com a câmera. Esse foi o início.
A segunda parte foi a filmagem. Várias idéias que me pareciam interessantes se perderam nesse trajeto entre o fotógrafo e eu. Algumas coisas boas surgiram. Pareceu-me que esta etapa tem uma relação muito forte com a linguagem oral, e em como é possível ou não traduzir uma imagem em palavras. Também aí começa uma discussão sobre como criar algo em conjunto com alguém. Nesse sentido acredito que foi um momento essencialmente técnico.
A última etapa foi a edição e sonorização onde o músico e o editor participam mais das escolhas do que pode ou não ser o trabalho. Com certeza o momento mais complexo da criação de um vídeo, penso eu. De novo me parece que são fundamentalmente questões de linguagem oral e de como traduzir idéias em palavras. Nesse entremeio o trabalho se transformou muito e se afastou um pouco dos “conceitos” iniciais em direção a outros, mas mantendo o eixo da discussão. Por falta de tempo algumas coisas não alcançaram a qualidade que eu gostaria. Interessante foi ter aprendido o básico de edição e de sonorização a partir da manipulação dos softwares. Com certeza aí houve um ganho significativo que acredito já poderá ser percebido num próximo trabalho, influenciando diretamente o processo inicial de criação, o que me parece muito válido para o projeto que estamos inseridos: Pesquisa de Linguagens.
*Carmen Jorge: Coreógrafa idealizadora do projeto Tecnolaboraterritório;
*PIP POP: Mostra de processo de criação em Videodança.
CJ: Angelo como você chegou na “coreografia” filmada em sua videodança “PINKO 5”?
A: Para mim a idéia de coreografia se desenvolveu para um estado criativo de movimento, onde minhas vivências corporais encarnadas durante toda a minha história como bailarino se manifestam no momento em que eu decido dançar. A coreografia para PINKO 5 tem uma forte relação com uma certa atitude “poser ironic fake”, e essas imagens me motivaram a dançar e me relacionar com a câmera no momento da filmagem. Fiz alguns estudos prévios,mas não criei nenhuma estrutura fixa.
CJ: Você partiu de algum conceito pré-estabelecido? Se sim qual?
A: Acredito que o conceito de uma obra se constrói durante o processo de criação. Eu tinha algumas idéias sobre o que eu gostaria de mostrar em uma videodança, que foram o ponto de partida. Queria criar algo que se relacionasse bem com a web, fácil de baixar ou assistir on line. Como estética tenho perseguido a ironia, a cultura pós-pop, o kitsch, a música eletrônica, o vídeo clipe e a moda. Essas coisas juntas compõem aquilo que se pode chamar de “conceito” e que para mim está sempre em transformação, como todas as coisas.
CJ: Como foi o processo de criação? O que envolveu e quem?
A: Esse processo começou com a proposta de se criar uma videodança, como um exercício. A partir disso visitei minhas referências, baixei muitas imagens na internet, músicas também. Assisti videoclipes atuais e antigos e busquei entender em que eles se relacionavam. Comecei estruturando a imagem do performer, a partir de uma junção de experimentos que realizei anteriormente, o body painting é um bom exemplo. Criei uma estrutura de arame inspirada nas idéias de parangolé e moldura. Isso tudo já é processo coreográfico. Escolhi o boneco do Snoopy como signo kitsch, elemento lúdico e ícone pop que remete à minha infância. Montei um set de música eletrônica e dancei um pouco pensando na relação com a câmera. Esse foi o início.
A segunda parte foi a filmagem. Várias idéias que me pareciam interessantes se perderam nesse trajeto entre o fotógrafo e eu. Algumas coisas boas surgiram. Pareceu-me que esta etapa tem uma relação muito forte com a linguagem oral, e em como é possível ou não traduzir uma imagem em palavras. Também aí começa uma discussão sobre como criar algo em conjunto com alguém. Nesse sentido acredito que foi um momento essencialmente técnico.
A última etapa foi a edição e sonorização onde o músico e o editor participam mais das escolhas do que pode ou não ser o trabalho. Com certeza o momento mais complexo da criação de um vídeo, penso eu. De novo me parece que são fundamentalmente questões de linguagem oral e de como traduzir idéias em palavras. Nesse entremeio o trabalho se transformou muito e se afastou um pouco dos “conceitos” iniciais em direção a outros, mas mantendo o eixo da discussão. Por falta de tempo algumas coisas não alcançaram a qualidade que eu gostaria. Interessante foi ter aprendido o básico de edição e de sonorização a partir da manipulação dos softwares. Com certeza aí houve um ganho significativo que acredito já poderá ser percebido num próximo trabalho, influenciando diretamente o processo inicial de criação, o que me parece muito válido para o projeto que estamos inseridos: Pesquisa de Linguagens.
*Carmen Jorge: Coreógrafa idealizadora do projeto Tecnolaboraterritório;
*PIP POP: Mostra de processo de criação em Videodança.
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sexta-feira, 24 de abril de 2009
PIP POP: MOSTRA DE PROCESSO DE CRIAÇÃO EM VIDEODANÇA
Nesta pequena mostra a PIP abre seus processos mais recentes de pesquisa de linguagens apresentando videodanças produzidos pela companhia e pelos alunos da oficina MINI CLIPES DE DANÇA, ministrada por Marcus Moraes.
Venha comemorar o dia internacional da dança com a gente e nos oferecer sua opinião sobre os trabalhos!
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